Histórias de fadas em Carcavelos: vamos cuidar de nós e das nossas crianças?

O primeiro dia de sessões em Carcavelos, no Sentires, foi verdadeiramente mágico. Talvez por este ser um espaço virado para o bem-estar da família, comecei com uma anciã e acabei com uma criança. É sobre crianças, pais e cuidadores este texto.


Os adultos costumam dizer que vão ao "paraíso", às "nuvens", outros não sabem muito bem onde foram. M contou à sua madrinha:

"Sonhei com fadinhas a brincar com coelhinhos, hamsters, gatos e girinos. E depois eu, a madrinha, a mãe, o pai, os avozinhos, a Sati e a Z éramos fadinhas. Eu chamava-me Milu, a madrinha chamava-se Mia, a mãe Liu ..... E o sonho continua comigo parada na berma da estrada a escrever..."

M, de nove anos, regressou do sonho aos saltos, a dançar, feliz e a perguntar o que lhe tinha acontecido. A madrinha ria, que nunca a tinha visto assim.

É, as crianças andam bem carregadas de pesos que não lhes pertencem. Precisam absolutamente de ser aliviadas desses pesos e restituída a sua própria energia de leveza, liberdade, curiosidade, enorme capacidade de invenção e de serem felizes.

M ficou só e apenas como é uma criança quando está bem.



É fundamental cuidá-los e é fácil se quem cuida deles estiver minimamente bem. É dar-lhes amor. Deixá-los brincar livremente. Explorar. Sujarem-se. Caírem e levantarem-se. E estarmos ali para os apoiar quando eles precisam. Para reforçarmos aquilo que fazem de bom e explicarmos aquilo que não é boa ideia fazerem.

Mas para termos capacidade para cuidar bem dos nossos meninos primeiro precisamos cuidar de nós.

Não há crianças saudáveis sem adultos minimamente saudáveis. Adultos que sejam capazes de não transferir para as crianças as suas próprias dificuldades, mas que, pelo contrário, desempenhem o seu papel de educadores amando, protegendo e apoiando esses pequenos seres.

Um adulto já foi uma criança e continua a transportá-la dentro de si. Se teve uma infância difícil, se ele próprio não foi protegido, traz feridas que precisam ser cuidadas. Todas as feridas precisam ser cuidadas, sob pena de infectarem o próprio e contagiarem à volta.

Também o dia-a-dia, normalmente tão desafiante, não ajuda à saúde emocional.



Quem quer ser bom pai / mãe, bom educador, professor, precisa em primeiro lugar de se cuidar para ser capaz de não transferir para as crianças as suas próprias mágoas.

As pessoas tendem a achar que é egoísmo cuidarem de si próprias, que devem pôr os outros à frente. Mas se a mãe / pai / educador não estiver bem o que é que vai dar à criança?

Se a mulher / marido não estiver bem o que é que vai dar ao outro? Se o companheiro / colega de trabalho / chefe / etc. não estiver bem o que é que dá às pessoas em volta?

Não, não é egoísmo o próprio cuidar de si. É um dever, um acto de sabedoria, um acto de generosidade para si próprio e para o mundo.

Então o meu desafio é: Vamos cuidar bem de nós para podermos cuidar bem das nossas crianças?

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